domingo, 2 de outubro de 2011

introdução

Como primeiro exercício na abordagem deste livro, tentei perceber o que são verdadeiramente as capas que titulam esta obra. Consultando a definição da palavra, poderemos desde logo associá-la a uma peça de roupa comprida, sem mangas que se coloca sobre qualquer outra peça de roupa, normalmente com uma função suplementar de protecção contra o frio. Assim, e para além do frio, as capas protegem-nos o corpo e a alma. Protegem-nos dos olhares curiosos e das intenções mais ou menos claras dos que nos rodeiam. Retirando a capa, surge em todo o esplendor a verdade, os segredos, os desejos, os desabafos, os sonhos, os poemas…
Abri então as capas, devagar, tentando não assustar os autores, não interferir nas palavras com que nos brindam. E assim de capas abertas passeei-me por um erotismo carregado de imagens, de desejos e nudez carinhosamente descrita, uma nudez que poderei dizer estar assente na saudade. Assim a apresenta Angelo Vaz, um poeta pintor, em busca permanente do corpo da mulher amada. Assim se apresenta ele no início deste seu livro feito em parceria com Fátima Porto. Reconheço várias partes nos textos que Angelo aqui nos deixa. Uma brilhante colecção de poemas, que desaguam em dois textos de transição “Puto I” e “Puto II”, um retorno ao amor paterno. Depois alguns textos poéticos duros, o arar de terrenos difíceis, as lutas internas violentas mas simultaneamente belas. Por fim, o encerramento da primeira parte com pensamentos poéticos onde em curtíssimas linhas o autor resume toda a temática identificável nos poemas e textos anteriores.
Fátima Porto despe aqui a sua capa, deixando-nos contemplar a sua alma desnudada onde identificamos em muitos poemas um desapontamento e sofrimento profundos, em forma de “lágrimas e dor”, “máscaras”, “peito dorido”, “revolta”, “tempestade”. Muito provavelmente, e de um modo metafórico, Fátima passa para o papel experiências vividas onde apesar de tudo ainda cabem alguns sonhos e vontades de construir novos “castelos”. Uma poesia simples, mas de grande riqueza sentimental onde cada um dos leitores poderá facilmente identificar o seu poema.
“A espera tem sido longa” e o livro não pode ser “atirado ao mar d’angústias e tristezas”. “O piano” por certo voltará a tocar, “de repente”, “um acorde forte como um grito” e perceberei que é tempo de voltar a colocar as capas e deixar os autores resguardados da minha tentação de os incomodar com perguntas indiscretas…

Nuno Guimarães|poeta

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